Vanessa muito bem; Vanessa menos bem...

"Acho que muitos atletas não têm bem a noção da realidade e do que isto [Jogos Olímpicos] significa. Se calhar têm facilidades a mais. Nunca na vida vinha para aqui viajar e ver os Jogos”, disse a triatleta.
“Um atleta de alta competição tem de ter objectivos concretos, pessoas em quem confiar a 100% e nunca fazer as coisas só por ele, ter uma boa equipa. Tem de saber o que quer, onde está e o que significa a alta competição. A alta competição não é uma brincadeira, não é fazer meia dúzia de provas, andar a receber uma bolsa e está feito. Isto é como um trabalho”, afirmou Vanessa Fernandes, para quem há “dificuldade em Portugal em perceber isso”.
Vanessa Fernandes afirmou ainda que “há pessoas que vêm aqui e é-lhes igual ficar em 50º ou 20.º, mas cada um faz o que pode no momento”, explicando que a presença nos Jogos Olímpicos não pode ser vista como um fim, mas sim como um início: “Eu não penso assim. Para mim são os resultados que me dão ambição e nunca estou satisfeita. Para ficar satisfeita com alguma coisa é um bocado complicado.”
Depois disto, Vanessa Fernandes criticou mais duramente algumas declarações de atletas que, apesar de infelizes, deveriam ficar no seio privado e não extrapolar para a comunicação social.

Pois é, num mundo perfeito, todos receberiam os apoios institucionais (e comerciais) da Vanessa, todos poderiam levar os seus pais para os Jogos Olímpicos, todos teriam um treinador (ou mais do que um) inteiramente profissionais e dedicados ao desporto; todos receberiam uma choruda bolsa do estado; todos poderiam dizer que "são profissionais" do seu desporto. Isso seria num mundo perfeito. Ou apenas no mundo da Vanessa.

A Vanessa é uma extraordinária atleta. Potencialmente a melhor Triatleta de todos os tempos (a competição de ontem veio prová-lo). E é um orgulho para todos os portugueses - ou, pelo menos, os portugueses querem que assim seja. Mas a sua tenra idade veio ao de cima nestas declarações. No desporto, qualquer um passa de besta a bestial num piscar de olhos. A não ser que sejam realmente superiores. Humanamente superiores. A Rosa Mota é assim. O Eusébio é assim. Curiosamente, estes dois ex-atletas ainda estão no seio desportivo e com um papel muito activo. Muitos outros vão passando ao esquecimento. Ninguém quer que isso aconteça com a Vanessa. Esperemos que a idade e a experiência lhe mostrem que há muitas outras realidades para além da dela e que o mundo tem muito mais de cinzento do que apenas preto e branco.